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Mostrando postagens de 2022

cacos

e eu me sinto em pedaços. fragmentos de algo que um dia já foi completo. até meus textos, idealizados em pensamento, vêm em partes. partes que me partem ao meio; me dividem, pra nunca mais juntar. e assim tem sido, aos cacos, fragmentos e pedaços.
eu ainda gosto do toque do meu lábio no teu cabelo bem curto. eu ainda admiro a maciez da tua pele sob as minhas mãos. eu me inundo do teu cheiro cada vez que sinto, como se fosse a primeira vez. eu ainda acordo antes da hora pra ficar observando o teu sono em silêncio. eu ainda me vejo aqui, escrevendo sobre e para ti, embora acredite que não saibas.  e eu continuo, até agora, contando os degraus a cada subida para o teu apartamento, como uma contagem para saber o quão perto eu estou de ti.
haja paciência pra tanta ansiedade que me habita.
sinto que a cada dia eu acabo com um pouco mais de mim. um constante construir e destruir, logo na sequência. como um canteiro de obras que nunca entrega o projeto final. sinto que a cada dia eu acabo com um pouco mais de mim. são quilos perdidos que vou ganhando. são cabelos brancos que vão surgindo, em oposição aos fios castanhos que se foram nos últimos meses. ao me olhar no espelho, penso: onde vou chegar desse jeito? sinto que a cada dia eu acabo com um pouco mais de mim. e nesse ritmo, vou sumindo. embora aos olhos dos outros, eu ainda esteja aqui.

alvo

eu sou um amontoado de erros. uma porção generosa de tentativas frustradas em querer acertar  o todo ou parte dele. eu sou um amontoado de erros e não há nada que me faça acreditar no contrário.

sobre o que tenho guardado

muitos são os desejos que tenho guardado  e se eu pudesse, decoraria todos os teus sinais registraria os teus gestos memorizaria o teu cheiro. tendo isso, não viveria nem mais um minuto sequer de saudade.

eus

e quando foi que eu passei a me importar com tudo? e quando foi que não deixei um pouco de lado pensar no mundo? afinal, quando foi que me tornei assim? inerte apática imóvel ansiosa inquieta preocupada vivendo um constante intercâmbio entre eu exterior e interior.

el mundo

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há pelo menos 9 anos meu quarto carrega o peso do mundo. mesmo em diferentes paredes  nas quais já esteve, esse tem sido o seu lugar. volto para mim, e na sequência, para esse mesmo mundo. miro, reflito e observo com a seguinte indagação: qual será o meu lugar nessa imensidão?  

quem se importa?

questão que paira o tempo todo. interrogação que percorre horas, minutos e segundos. quem se importa? afinal, quem se importa? com o que digo com o que sinto ou com o que compartilho. quem se importa? com o que temo com o que vejo com o que desejo. quem se importa, afinal, com o chá que esfriou ao meu lado? quem se importa com o tom de verde por entre os dedos borrado? quem se importa com o verso inesperadamente criado? quem se importa com o rumo desse texto tomado? silêncio ninguém responde,  pois novamente,  quem se importa?

planetário

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me sinto um planeta alinhado com tantos outros sincronizado no tempo localizado em algum espaço. me sinto um planeta desorientado quando algo sai de órbita  corpo celeste onde não há mais força gravitacional.
sentir saudade talvez seja uma enorme fraqueza minha. tenho saudade de mim sinto saudade de quem se foi e também de inúmeros momentos que já vivi.

limbo

e a cada aniversário que completo, ganho alguns dias antes, uma enorme e chamativa caixa de introspecção. entro na caixa-concha e dela não quero sair. penso e repenso comigo sobre tudo, repenso e penso comigo sobre tanto. um eterno paradoxo. e todo ano me questiono: seriam essas as sensações de um final de caminho para onde fui? seriam essas as sensações de começo de um novo caminho para onde vou?
 ser um amontoado de trilhões de células me faz sentir tal qual eu fosse um ser unicelular cada unidade fundamental sofre, vive, exclama, arrisca e se defende lembra, lamenta e por vezes não reage é imperfeita na perfeição e assim sobrevive.

quarto

Meu quarto tem teu cheiro Por esse motivo, sigo trabalhando na sala. Todo momento em que passo pelo corredor, minha expectativa é de que nele ainda estejas desempenhando tuas tarefas, comemorando teus avanços, cantarolando tuas músicas. Nesses dias, aquilo que ainda não tinha significado, ganhou. Meu quarto tem teu cheiro Por esse motivo, quero desesperadamente sair daqui. Vários são os motivos, Mas principalmente para poder sentir ele vindo de ti. Meu quarto tem teu cheiro, teu jeito e agora tua marca.

espelho

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Lorraine Sorlet em cada linha, a idealização. no pensamento, a projeção de um querer ser. ser singular ser amável ser humano. ser, acima de tudo, desejado e quisto. compreensível e flexível. tudo isso mora nesse imaginário espelho reflexo do que esperamos um do outro e o outro do um. e tudo isso mora nesse imaginário espelho que reflete paradoxalmente o (des)conhecido.  

marco

No marco da porta da "minha casa" existem incontáveis marcas. Algumas dos outros. Tantas outras, minhas. Inúmeras entradas cicatrizadas na madeira. Diversas saídas lapidadas nessa moldura. Percebidas há poucos dias. E se cada uma delas recordasse o dia exato de cada registro? Cada ida.  Cada vinda.  Cada ida e vinda.  Cada dia.

antônimo

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as vezes a gente parece ser pedra no caminho mas na verdade a gente só gostaria de proporcionar um bom percurso. as vezes a gente parece ser um peso pro outro mas sempre buscando a leveza que a maioria dos atos foram pensados. as vezes a gente é coração partido querendo imensamente colar os cacos pra ser inteiro de novo.

inquilina dos meus pensamentos

penso na vida e "apenas" sinto. penso na vida, mas não em uma possível tradução em palavras que caibam aqui. penso na vida e, no momento, nada dela sai. penso na vida e medito sobre o que ela quer de mim. penso na vida e reflito sobre o que quero dela. complexidades de ambos os lados. e nesse espaço, parte da minha vida,  se transforma em um ir e vir de momentos onde sensações e sentimentos tornam-se um amontoado de palavras que objetivam dar algum sentido a isso tudo. penso na vida e na facultativa "necessidade" de tudo ser compartilhado. assim, quer a vida queira ou não lúcida ou sob efeito, sinto que ao menos aqui sempre estarei.

envelope

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no envelope te entreguei um mundo. naquele invólucro de papel pardo te entreguei meu mundo, ofereci constelações, doei meu universo.  mas é nesse mesmo envelope ainda intacto íntegro intocável que habita o desconhecido por ti.

cadê?

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onde está o amor? próprio do outro por tudo pelo simples. mostre  o caminho aponte a direção pois talvez tenha rumado para o lado contrário. mostre  o caminho aponte a direção pois talvez esse trajeto  ainda seja desconhecido.

exterior

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têm vezes que o que mora aqui dentro quer extravasar transborda assim por cada poro e canal  toma como rumo cada corda vocal localizada nesse corpo a fim de ter como linha de chegada, o exterior. o que mora aqui dentro não é treinado não estabelece o exterior como um objetivo consciente a ser alcançado. o que mora aqui dentro dança conforme as circunstâncias ora ajeita-se ora acumula-se por vezes extravasa. e extravasa porque ferve.  essa fervura faz a chegada ao exterior ser um pouco torta ebulição fruto de uma crônica atrapalhação  um exterior extremamente atrapalhado.

vagalume

Quero luz  Pra consertar tudo. Vago no escuro. Percorro o breu. Transito pelo imprevisto. Tudo isso carregando apenas a boa e brilhante intenção dentro de mim.

4/365

Até que se prove o contrário Me mantenho aqui nesse espaço Por vezes constante, insistente Por vezes inconstante, intermitente. Até que se prove o contrário Me mantenho mais uma vez aqui Mesmo sem saber o que escrever Apenas pela vontade de estar. Aqui, tudo fica e se finca Aqui, nada se vai ou se esvai. Isso não fará sentido algum para quem lê E até que se prove o contrário Talvez seja essa a intenção mesmo.